quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Velvet Goldmine - 1998

Para voltar a falar sobre o trabalho de outros figurinistas, resolvi resgatar 'Velvet Goldmine', filme de Todd Haynes que me marcou muito - pela plasticidade, pela história, pela música - e que foi indicado ao Oscar de Melhor Figurino e ganhador do Bafta (o prêmio da academia britânica) de melhor figurino em 1999.
A surpresa foi descobrir que a figurinista deste filme é também responsável pelos figurinos de outros filmes que gosto muito, como 'Caravaggio' (1986) de Derek Jarman (que foi referência para a minha proposta de figurino para o curta "1718"), 'Orlando - A Mulher Imortal' (1992) de Sally Potter, 'Traídos Pelo Desejo' (1992) e 'Entrevista Com O Vampiro' (1994), ambos de Neil Jordan.

A figurinista por trás de todas estas obras é a inglesa Sandy Powell, que já conquistou três Oscars (em 1999 por 'Shakespeare Apaixonado', em 2004 por 'O Aviador' e em 2010 por 'A Jovem Rainha Vitória') e concorre a outro agora em 2011, também com o figurino de época, com o filme 'A Tempestade' de Julie Taymor.
Sandy Powell estudou na Central School of Art de Londres, e com 'Caravaggio' iniciou uma boa parceria com Derek Jarman, para quem desenvolveu uma série de figurinos (para 'Eduardo II', 'Crepúsculo do Caos' e 'Wittgenstein', por exemplo).
Em geral seus figurinos são pararrealistas, remetendo ao passado mas com uma cara contemporânea, atual. É perceptível a intenção de 'criar', de colocar um ponto de vista sobre a pesquisa histórica, provavelmente é por este motivo que não trabalha muito com filmes contemporâneos, que não permite tanta criação.
Para 'Velvet Goldmine' a maioria do figurino partiu dos croquis de Sandy, que pesquisou uma série de fontes como fotografias, filmes e também de sua memória da época. Ela não encontrou roupas originais da época, já que essas roupas usadas em apresentações não eram elaboradas para durar, então construi as peças com o mesmo refinamento e requinte que os figurinos feitos em seus outros filmes de época. São peças andróginas, espetaculares e ricas em detalhes.
A riqueza de caracterização da figuração
A história de Brian Slade (Jonathan Rhys Meyers), que serve de fundo para narrar todas as mudanças culturais que aconteceram na Inglaterra na década de 70, é obviamente inspirada na vida de David Bowie, seu começo de carreira, como por exemplo na época em que lançou o disco 'The man Who Sold The World', em que usava cabelo comprido e usava vestido, ou ainda na fase em que encarnava o polissexual alienígena Ziggy Stardust, no filme vertido em 'Maxwell Demon'.
David Bowie acima, e Brian Slade (Jonathan Rhys Meyers) abaixo.
Curt Wild (Ewan McGregor) é a versão cinematográfica do anárquico Iggy Pop.
Mandy Slade (Toni Collette) é uma versão de Angela, primeira mulher de Bowie.
O repórter Arthur Stuart (Christian Bale), que nos guia por esta investigação sobre o passado e o destino de Brian Slade, é primeiramente retratado como um jovem oprimido pelos pais e que encontra sua válvula de escape justamente neste astro do Glam Rock, e que ao longo da história vemos a influência disso em sua vida.

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"A não ser que o filme requeira, não estou interessada numa réplica exata do período. Eu olho para o período, como deveria ser, como pode ser, e então faço a minha própria versão."
Sandy Powell, em entrevista a revista Time em 1999

"O underwear é o mais importante. Ele provê a silhueta para tudo que vai por cima."
Concordo plenamente, é fundamental! Em seu programa "Guru de Estilo", Tim Gunn sempre repete que uma boa lingerie é a base de tudo.

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Quer saber mais sobre David Bowie como Ziggy Stardust? AQUI.

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